Izabel Lourenço foi diagnosticada com a doença de Wilson, que afetou sua movimentação. Após um ano acamada e andando com apoio de muleta e cadeira de rodas, jovem conseguiu deixar os aparelhos e agora cursa graduação em agronomia. Izabel Lourenço em laboratório da UFT
Divulgação/Daniel dos Santos
Portadora da doença de Wilson, a universitária Izabel Lourenço, de 26 anos, busca ser um exemplo de superação para outras pessoas. A jovem cursa agronomia na Universidade Federal do Tocantins (UFT) em Gurupi e quer fazer da sua história uma motivação para que outras corram atrás de seus sonhos. A universitária passou um ano acamada, mas com apoio médico e de educadores físicos conseguiu sair da cadeira de rodas.
“Fiquei um ano assim. Daí chegou um momento da minha vida que eu falei ‘não, não quero isso aqui para a minha vida não. Vamos reagir Izabel, vamos reagir’. Muitas pessoas têm mais saúde do que eu e não correm atrás dos seus objetivos. Eu tinha tudo para ficar dentro de casa, parada. Mas não. Eu pensei ‘vou vencer na vida’. Estou correndo e estou conseguindo. Isso aqui é uma superação”, contou.
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Izabel foi diagnosticada quando tinha 19 anos. Em entrevista ao g1, ela contou que sentia muita fraqueza e caía com frequência. Por causa dos sintomas ela precisou sair do trabalho, onde exercia a função de assistente administrativa. Na época, ela chegou a procurar vários médicos que falavam que poderia ser sintomas de depressão.
“Começou com uma fraqueza, minha letra estava piorando, não dava conta de escrever. Qualquer coisinha eu caia, levava uma queda. Eu passei a ficar acamada, na cadeira de rodas, não falava, não escovava minha boca sozinha, não tomava banho sozinha. Para tudo precisava de alguém. Os médicos diziam que era depressão e estresse. Até tinha desistido de ir aos médicos em Gurupi. Daí minha tia falou para eu ir em uma psiquiatra”, explicou.
Rotina afetada
Com assistência médica da psiquiatra, a universitária foi diagnosticada com a doença de Wilson. Ela então entrou para musculação, fez fisioterapia e consultas com fonoaudióloga. A junção dessas atividades a ajudou a deixar a cadeira de rodas e a muleta.
“Eu não gostei de ter essa doença. Aceitar a gente até aceita, agora gostar de ter a doença, não. Até um certo ponto da minha vida eu tinha vergonha da doença”, disse Izabel.
Imagens publicadas nas redes sociais de Izabel mostram a evolução dela ao longo dos anos após as atividades físicas. No vídeo, ela aparece fazendo exercícios na academia, que se tornou parte essencial da sua vida.
Além da parte física, Izabel também cuida da alimentação. Por causa da doença, o organismo dela não processa o cobre da forma que deveria, podendo causar um acumulo do mineral nos órgãos. Como alguns alimentos possuem muito cobre, ela precisa fazer restrições para evitar que a doença piore. Carne vermelha, chocolate e refrigerante são alguns dos alimentos que ela precisa evitar.
Vídeo mostra evolução do tratamento de jovem diagnosticada com a doença de Wilson
Novela foi inspiração para graduação
Izabel está no terceiro período do curso de Agronomia da UFT. A decisão de fazer a graduação surgir após acompanhar a novela da Globo 'Terra e Paixão'. Os campos e visuais a encantaram e por isso resolveu prestar o vestibular para o curso.
"Eu me apaixonei pelo campo através dessa novela. Na época estava aberta a inscrição para o vestibular para agronomia e daí me inscrevi. Fiz a prova e passei. Estou gostando, estou me identificando".
Izabel durante apresentação de trabalho no curso de Agronomia
Divulgação/Izabel Lourenço/Arquivo Pessoal
Ela começou o curso em 2024 e tem progredido nas disciplinas. Os elogios são incentivo para a jovem.
“Os professores falam ‘Izabel você melhorou demais desde o primeiro dia que te vi aqui’. Eu tenho dificuldades? Tenho dificuldades. Mas todos me tratam igual lá. Porque eu quero. Eu falei para eles [colegas de turma] ‘olha, eu sou normal’”, comentou.
Irmã, amiga e cuidadora
Para frequentar a universidade, Izabel conta a ajuda da irmã Maria Lourenço. A UFT estabeleceu que a jovem iria precisar de uma cuidadora e suporte pedagógico. Durante o processo de matrícula, Maria foi escolhida como a cuidadora. Ela ajuda a irmã nas apresentações de trabalho, exposições de ideias na turma e movimentação no campus.
“Minha irmã ali para mim é um anjo. Tem vezes na sala de aula, que eu quero dar a minha opinião para outras pessoas. E lá ninguém entendia o que eu falava e minha irmã entende tudo o que eu falo. Tem vezes que eu falo e nem eu mesma entendo, mas minha irmã entende”, brincou Izabel.
Izabel Lourenço e Maria Lourenço
Divulgação/Izabel Lourenço/Arquivo Pessoal
Maria tem 18 anos e faz o curso de fisioterapia. Aos 14 anos, ela também foi diagnostica com a doença de Wilson, de forma precoce, e conseguiu conter os sintomas. As duas possuem um carinho e admiração enorme uma pela outra.
“Minha irmã, eu vejo ela como exemplo para mim. Eu amo muito ela, do fundo do meu coração. Quando ela passou no vestibular, eu fiquei com muito medo, pensando 'nossa como minha irmã vai fazer para se cuidar lá na faculdade'. Minha mãe também ficou com medo. Mas deu certo, a notícia de que ela ia ter uma cuidadora e depois ficou sabendo que eu poderia ser também. Aí foi um alívio na nossa vida. Eu amo muito cuidar dela”.
Sonho de correr com 'Bigolzinho'
A jovem é torcedora do Flamengo e colocou o nome do seu cachorrinho de 'Gabigol', em homenagem ao jogador de futebol que saiu do clube carioca em direção ao Cruzeiro. Ela adotou o animal há quatro anos, quando os médicos disseram que ela não poderia mais ter filhos. Agora, seu maior sonho é conseguir correr com o pequeno 'Bigolzinho’.
"Gabigol é tudo para mim. No início da doença os médicos falavam que eu não ia poder ter filhos por causa da doença. Meu filho poderia nascer com a mesma doença que a minha. Daí pensei 'vou adotar um cachorrinho então'. Hoje em dia eu posso ter filhos", explicou.
Izabel Lourenço e seu cachorrinho Gabigol
Divulgação/Izabel Lourenço/Arquivo Pessoal
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Publicada por: RBSYS